quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Como lidar com uma criança com câncer. Parte I

Contar ou não contar?

Acho que a maior dúvida de pais e famílias que recebem o diagnóstico do câncer é: Como contar o que está acontecendo?

Acho que a decisão mais tomada é a de esconder, pelo menos por um tempo, o que é o câncer e qual a sua gravidade. Mas a criança sente todas as mudanças em volta dela, e sente as mudanças em seu corpo. Sente o desespero dos pais e a mudança do comportamento deles com ela (assunto para o próximo post).

Então, foi pensando nessa possível necessidade dos pais que resolvi fazer um post sobre isso. O primeiro da série: COMO LIDAR COM UMA CRIANÇA COM CÂNCER.

Primeiramente vamos às considerações pessoais com o caso do Gustavo. Ele é uma criança muito esperta, e não adiantaria de nada dizer "Gu, tem um bichinho malvado no seu corpinho, mas existem remédinhos mais fortes do que ele, e logo logo ele vai morrer". Isso não rola com ele. O papo tem que ser direto, nada de tentar contornar a situação. A mente dele já não é mais de uma criança de 8 anos, talvez ele tenha 12 na idade mental, sem exageros. E com toda essa transformação, talvez agora ele já tenha 15 hahahaha.
Ele já perguntou o que era o câncer, a explicação foi dada pela mãe, que tentou ser clara e direta. Afinal, ele merece saber a verdade, né? 

Mas, e se ele se assustasse e enfraquecesse pelo medo? A verdade é o que sempre deve prevalecer em tudo, mas até em um caso como esse? Por um lado é bom dar uma "enganada" na gravidade da coisa, pra não assustar a criança, não desanimá-la. Por outro, ele precisa saber da gravidade pra poder colaborar com o tratamento e os cuidados. Saber que as internações são importantes, e os cuidados com limpeza, e etc também são. Pra criança colaborar, ela precisa entender perfeitamente os motivos. É aí que deveria entrar um auxílio psicológico para todo o núcleo que está próximo e atua diretamente no tratamento dos pequenos. Isso também é assunto de outro post. Mas vamos lá.

Minha opinião pessoal é a de que DEVE ser contada a verdade, deve ser explicado o processo de tratamento, o processo de cura, e principalmente enfatizar que as chances de cura são maiores do que as de não-cura. Para a Leucemia, no Brasil, as chances de cura giram entre 70% e 80%. Pesquisando sobre cada tipo de câncer, podemos ter a margem das chances de cura de cada um deles.

Mas agora vou colocar aqui um trecho de um texto que diz sobre como e se deve ser falada a verdade sobre a doença e sua gravidade. Esse texto por completo é maravilhoso e um verdadeiro guia para saber como, quando e SE contar. Olhem no site o artigo completo: http://www.sliba.org.br/conversando.html

Agora fiquem com os trechos que destaquei para colocar aqui:

Quem deverá contar?

A resposta para esta questão é pessoal, e depende do relacionamento que vocês, pai, mãe ou responsável, têm com a criança e os seus sentimentos.
Sendo pais ou responsável, você prefira que seja você mesmo a contar, ou talvez que o médico ajude a explicar a doença. De qualquer forma, você ou alguém que tenha intimidade com a criança deverá oferecer-lhe apoio, encorajamento e amor.
Caso você mesmo decida contar sozinho, sem a ajuda do médico, conversar com outras pessoas poderá ajudá-lo a escolher o que dizer.
Os proficionais de saúde, como o médico, a enfermeira, o assistente social ou o psicólogo podem dar boas idéias. Converse com pessoas envolvidas com outras crianças com câncer. Entre em contato com membros de grupos voluntários para obter aconselhamento. Meditar sobre aquilo que você deseja dizer, conversar com outros adultos e fazer um ensaio com alguma pessoa próxima ajudará você a sentir mais à vontade.

Quando a criança deverá saber?

Uma vez que você está sendo o melhor juiz a respeito do jeito e da personalidade da criança, você, pai ou responsável, provavelmente é a melhor pessoa para decidir quando ela deverá ficar sabendo. Não existe um momento certo para contar a uma criança que ela está com câncer. Tente encontrar um momento de tranquilidade e um lugar onde você e a criança possam estar a sós. Este ambiente criará uma atmosfera de calma e apoio.
Provavelmente será melhor contar à criança logo após o diagnóstico. Esperar muitos dias ou semanas fará com que ela tenha mais tempo para usar a imaginação e desenvolva medos dos quais talvez seja difícil e livrar no futuro.

O que deverá ser contado?

Antes de conversar com a criança, você, pai ou responsável, precisa ter conhecimento sobre o tipo de câncer que ela tem e o tratamento que será utilizado. Dessa maneira você estará preparado para responder às perguntas. A criança se sentirá mais segura se você puder fornecer informações corretas. O volume de informações e a maneira que serão transmitidas dependerá da idade e da maturidade da criança. Como regra geral, usar uma maneira aberta, franca e suave é o melhor caminho.
Ao procurar um órgão envolvido com tratamento de câncer para se informar melhor, será apresentada a você uma descrição geral dos diferentes estágios de desenvolvimento da criança, bem como daquilo que elas estão em condições de compreender acerca da doença séria, conforme sua idade.

No link que postei acima, tem essas e muitas outras informações úteis sobre como, quando e onde contar sobre a doença para uma criança. Muita coisa escrita lá tem a ver com minha opinião pessoal. Antes de encerrar o post, mais um trecho do texto que achei interessante e darei destaque aqui.

  • Lembrar a criança de que o câncer não é culpa dela, e nem aconteceu por algo que ela fez ou tenha deixado de fazer. Deixar claro que o tratamento, mesmo sendo agressivo, não é uma punição ou castigo (evite utilizar coisas como: ou você colabora e come, ou voltaremos ao hospital pra você ficar internado com imunidade baixa)
  • Seja sincero sobre as condições de tratamento, sobre os processos que ocorrerão com ela, sobre o que vai acontecer com o corpinho dela durante o tratamento. Qualquer mudança, não deixe de explicar para ela, evite confusões na cabecinha dos pequenos
  • Caso ela pergunte algo que você não saiba responder, não invente, nem ignore sua pergunta. Vá atrás da resposta com o médico responsável pelo tratamento e seja sincero com a criança
  • Não evite ouvir sobre os sentimentos que a criança anda tendo e seus pensamentos. É preciso ter ciência do que passa na cabecinha dela. Deixe-a falar dos seus medos e desabafar. Deixe-a chorar se ela quiser chorar, ela precisa liberar seus sentimentos ruins.
  • Estabeleça limites à elas. Não deixe de brigar ou impedir certas coisas só porque está doente. Ela precisa sentir que sua vida, de certa forma, ainda é a mesma vida. E que ela ainda precisa obedecer às regras impostas. Mudar a forma de criação sendo mais liberal pode fazê-la pensar que a gravidade é maior do que realmente é.
  • Deixe ela desenvolver sua independência, realizando tarefas sozinha. Ela precisa sentir que é capaz de amadurecer e continuar seu desenvolvimento natural. Desde que isso esteja dentro das condições em que ela se encontra e não a prejudique
  • Deixe-a brincar e se distrair para reduzir sua ansiedade. Acompanhamento social e psicológico é fundamental. Caso não seja possível no seu caso, busque meios de interação para sua criança não ficar o tempo todo pensando na sua doença. Deixe-a brincar de ser médica, por exemplo. Ajudará a entender a função deste profissional.
  • Entender que a criança pode estar mal em um dia, e bem em outro. Assim como os adultos, tem seus altos e baixos de estresse. Paciência
  • Lembre-se que a equipe do hospital, em um todo, agora é seu apoio, inclusive para matar algumas dúvidas. Pergunte tudo sobre tudo, se precisar repetir a pergunta inúmeras vezes, repita. 
  • As crianças podem sentir medo de serem abandonadas, inclusive as menores de 5 anos. Deixe claro que caso você precise se ausentar, você jamais a abandonaria. Deixe alguma garantia com ela de que você voltará em breve. Algumas tem medo, inclusive de que você vá ao banheiro e deixe-a sozinha. Converse antes com ela sobre essas ocasiões para que ela entenda que você jamais sairia de perto.
  • Ajude-a a manter contato com os amigos e professores. Assim, ela saberá que é uma criança normal como todas as outras, com amigos e interesses.
  • Não deixe que ela pare os estudos. Mesmo que tudo tenha que ser feito em casa. Não deixe ela pensar que não retornará para a escola. Continue cobrando a responsabilidade dela com o aprendizado e faça com que ela retorne à escola assim que for possível.
Não deixem de conferir o texto completo no site da SLIBA. É excelente.
Confira também:

  • http://www.jn.pt/blogs/emletramiuda/archive/2010/07/02/como-dizer-a-uma-crian-231-a-que-tem-cancro-ou-outra-doen-231-a-grave.aspx
E é isso aí, gente. Em breve o próximo capítulo da nossa saga: COMO LIDAR COM UMA CRIANÇA COM CÂNCER.

Força para todos.

Beijão ;*



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